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Na Crista da Onda

Tudo o que você queria saber ... ou não ...

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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A alma arranhada e o Museu Nacional: A ferida perpétua da catástrofe dos nossos dias

Olá pessoas e seus amigos imaginários!

Espero que todos vocês estejam bem nesses tempos tão temerários e tenebrosos. 

Hoje é dia 03/09: Dia do Biólogo. A ironia é que essa data que me traz tanto orgulho, hoje tem um gosto amargo de esperança chamuscada da mais profunda tristeza. 







Ontem foi um domingo de sol e cheio de vida na cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro.  Várias famílias visitaram pela última vez esse patrimônio da humanidade e da sociedade carioca. Era um dia de domingo comum onde a felicidade e a carioquice transitava pela sua própria casa: A Quinta  da Boa Vista e o Museu Nacional. 




O Museu Nacional:  Essa instituição com ares de eternidade magnífica, receptiva a tantas pessoas, reduto de conquistas e alegrias, local que me inspirava profunda reverência,sucumbiu e rasgou todos os nossos corações. 




Todo carioca tem lembranças da Quinta da Boa Vista. Lá é um lugar imenso, cheio de vida onde todo mundo pode entrar de graça,  brincar, fazer piquenique, relaxar *e eventualmente ser mordido por muitos mosquitos*. E lá na Quinta, no imperial bairro de São Cristóvão,  repousa o Zoológico do Rio e  o nosso Museu Nacional. Ele foi a residência de monarcas fazia parte da história da única capital imperial das Américas bem aqui no local mais acolhedor do Rio de Janeiro. E nos dias atuais era também a casa do povo e  do livre-saber. Ele era de todos nós. Preços acessíveis com ciência e cultura de qualidade para todos. E foi devorado pelas chamas a olhos vistos por todos nós. Todos choramos. 






Eu sempre vi o Museu como o meu Museu. Eu visito o Museu desde criança. C4, bióloga, sempre me incentivou a amar as Ciências Naturais e outros campos de conhecimento como a História, Antropologia e a Arqueologia. Eu hoje mesmo sou Bióloga, Paleontóloga, Paleobiogeografa e agora estudo o Paleoclima e flerto claramente com a Arqueologia. Boa parte da minha vocação se dá a espaços como o Museu Nacional.  Ele me ensinou a sonhar e a tecer meus sonhos.



Dói saber que uma parte de nós, cientistas, foi roubada de nós pelo descaso, pela maldade de desmontes sistemáticos e repetidos. Roubaram nosso passado como  parte integrante da humanidade. Roubaram o nosso presente. Roubaram o nosso futuro. O quanto ainda podia ser estudado? O quanto ainda podia ser descoberto? E nessa imensidão do silêncio da possibilidade imensurável, repousa o dilacerar dos nossos pensamentos de tudo o que poderíamos ser e nunca mais seremos. 




Nada mais simbólico do que as chamas do Museu Nacional. A primeira instituição científica do Brasil. O maior acervo das Américas. O  reduto de conhecimento de múltiplas áreas, a interdisciplinaridade corriqueira que cumpria, desde sempre, o dever máximo da ciência: Divulgar o conhecimento. Trazer para o indivíduo comum o esclarecimento.  Tudo às vésperas do dia do Biólogo e às vésperas do feriado da Independência do Brasil. AINDA MAIS considerando que a Declaração da Independência do Brasil foi assinada pela Princesa Leopoldina dentro desse prédio e onde foi realizada a nossa primeira Assembleia Constituinte como República. 




Tudo no Museu Nacional reflete em amplas grandezas de tempo. São 200 anos de instituição em aproximadamente 500 anos de Brasil. Milhões de anos perdidos pelos nossos fósseis. Milhares de anos queimados com nossos registros arqueológicos e antropológicos. Centenas de anos de registros históricos e da biodiversidade que se esvaíram. O registro do nosso conhecimento nos é tomado pelas labaredas da ignorância.



Um museu é muito maior que a exposição. Ele compreende a reserva técnica, a documentação, livros-tombo, salas de aula, equipamentos e materiais de pesquisa, holótipos, arquivos,
materiais bibliográficos, arquitetura, arte entre outros elementos fora os materiais que ainda não haviam sido tombados.




Quem vive de pesquisa nesse país, é por natureza um sobrevivente. Quem faz ciência é resiliente. Tudo conspira contra. Há falta de investimento, incentivo, compreensão, apoio. A falta de amadurecimento como nação. 




QUAL CIENTISTA NUNCA ESCUTOU: "Você só estuda, não trabalha" ou viveu com críticas obtusas de ser um "Estudante profissional" ou "que mama nas tetas do Estado" entre outras barbaridades que temos de escutar no nosso cotidiano. Mal sabem que Ciência é um trabalho. Eu mesma já cheguei a trabalhar mais de 14 horas por dia; eu costumo trabalhar aos finais de semanas, feriado; não tenho férias. Minha vida gira em torno de prazos super apertados, falta de estrutura e com baixo incentivo financeiro. 

E isso não é privilégio meu. É algo que faz parte do cotidiano de milhares de cientistas das mais diversas áreas do conhecimento. Tudo pela sede do conhecimento do meu país, do mundo, da humanidade, da ciência que pretende, por definição, avançar e nos elevar como sociedade. As pessoas mal sabem que boa parte da nossa vida contemporânea não seria real sem a produção desse conhecimento para a compreensão daquilo que nos cerca e daquilo que nos faz sermos nós mesmos. Sem a pesquisa não podemos nem elaborar hipóteses e predições para cenários futuros e sobreviver às nossas próprias ações como humanidade. 




Fala-se de um acervo de mais de 20 milhões de peças. Mas um museu é muito mais que isso. Ele é a memória. Ele é a cultura. Ele é o ensino. Ele é a educação. Eu, particularmente, nunca trabalhei com materiais provenientes do Museu Nacional. Mas tenho dezenas de amigos e colegas que foram formados por essa instituição ou que trabalhavam lá diretamente ou através de parcerias. Sem contar os convênios entre instituições brasileiras e internacionais. Quem trabalha com pesquisa sabe da dedicação que ela exige em termos de excelência e dói saber que vidas foram arruinadas, carreiras foram reduzidas a pó e sonhos atuais e futuros se perderam. 


Quantas crianças passaram a amar as Ciências Naturais ou Arqueologia, Antropologia, História através do contato com o Museu Nacional? E quem perdeu seu local de vocação, de sonho, de pesquisa, perde também a sua casa. Então somos um Rio e um país mais uma vez órfão de si mesmo.

Quanto a memória, trago lembranças da minha infância, adolescência, juventude, do meu desenvolvimento como ser humano, cidadã e cientista. Conhecimento, Maravilha e Fantasia. Uma das minhas heroínas *vocês devem lembrar do meu antigo post. Chequem aqui* era a Imperatriz Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II, culta, intelectual, nerd e que sempre apoio a arte, a cultura, a ciência e que trouxe sua paixão pela pesquisa pelo conhecimento e ajudou a desenvolver o embrião da pesquisa no Brasil. Tudo no Museu Nacional. 






Além disso, eu sempre  imaginava as princesas em seu jardim *Jardim das Princesas* , fazendo mosaicos e sendo educadas com maestria pelos seus tutores. A vida de um tempo que só reconhecia pelos livros de história. Também quando eu ia lá podia desfrutar de um pouco da história dos meus antepassados, que também amavam a ciência e que se importavam com o meu país. Os  nerds e intelectuais imperais e de diversas outras gerações que passaram pelo Museu Nacional e que amavam essa terra e que respeitavam o conhecimento e o saber.








É tudo muito triste saber que a perda será irreparável e que as futuras gerações nunca poderão entrar no museu e descobrir suas maravilhas e ter aquele gatilho, aquela fagulha de deslumbramento que poderia instigar novos cientistas. E essa ferida, será para sempre nossa. 




A resiliência nos é inerente como cientistas. Precisa ser também como humanidade. Mesmo que a gente saiba que esse descaso não é só com o nosso museu. Ela é com todas as instituições de saber, cultura, memória do nosso país e, com especial destaque, o Rio de Janeiro. Uma metáfora que se faz carne e nos estapeia.




Mas resistimos, enxugando as nossas lágrimas e seguimos em frente, rasgando a indiferença. 

O Museu vive. Ele ainda respira dentro de nós. 

Afinal, a "Life  finds a way". 




Cya,

Thaís Parméra - Ciberstar - Futura Imperatriz de TODO Universo Conhecido 

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