Olá
pessoas e seus amigos imaginários!
Espero
que estejam todos bem!
Trago
novidades!
Esse
post está inaugurando uma novíssima seção de entrevistas do Blog na tag
#DignoDeF5!!!!
Nessa
seção irei entrevistar vários cientistas, pensadores, artistas, intelectuais,
nerds (nos seus mais variados desdobramentos conceituais e especificidades),
empreendedores e pessoas interessantes que são um exemplo e inspiração nas suas
áreas de conhecimento e que podem agregar coisas magníficas ao público do blog!
E
para a estreia *ulalá... trés chic!* teremos uma cientista maravilhosa chamada Iara
Martins Matos Moreira Clemente!
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Beijos, sociedadade! =* |
Vem conhecer mais
sobre ela e ver o nosso bate-papo!
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Preparei um pequeno glossário com alguns termos científicos que foram abordados
na nossa conversa. Coloquei ele no final da entrevista para vocês
consultarem!**
Iara
é Bióloga Marinha e Licenciada em Ciências Biológicas pela Faculdades
Integradas Maria Thereza. É mestre e doutora em Ciências pelo
Programa de Análise de Bacias e Faixas Móveis pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Atualmente é pós-doutoranda pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Além disso, já lecionou Biologia em diversos colégios.
Nos
dias atuais trabalha com geociências, realiza reconstruções e avaliações
paleoambientais e paleoclimáticas ao longo do Holoceno utilizando
principalmente microfósseis. É autora de vários artigos, capítulos de
livros e resumos em congressos, participou de bancas, realiza orientações de
pós-graduação e efetua parcerias internacionais na execução de suas pesquisas.
Além disso, tem uma família grande e unida e ainda é mãe de duas lindas
meninas adolescentes. Iara Martins é uma jovem doutora com uma brilhante
carreira em ascensão e é uma demonstração perseverança e de conquista do espaço
científico pelas mulheres.
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Iara Martins!! |
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Amonia tépida - Foraminífero e principal objeto de estudo da Tese da Iara Martins!
**Não sabe o que é um Foraminífero? Olha o glossário!**
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O
Blog Utopia Cibernética foi conversar diretamente com a Iara, em um dos grandes
pólos de pesquisa do estado do Rio de Janeiro, dentro da Faculdade de Geologia,
no Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.
Como
começou a sua relação com a ciência?
Na
realidade, tudo começou quando eu me apaixonei pelo curso que eu queria, que
era a Biologia Marinha.
Certo.
A
princípio eu não tinha pensado em Biologia Marinha e na época do vestibular eu
comecei a pesquisar e acabei me encantando. Só que tinha um problema: no Rio de
Janeiro só tinha uma faculdade que tinha Biologia Marinha e era particular...
Então eu optei ir para ela. Eu acabei passando para outras universidades, mas
eu optei ir para ela porque era o que eu queria. E quando eu cheguei lá, eu
cheguei com uma visão totalmente diferente da que eu tenho hoje. Eu achei que
eu iria trabalhar fazendo pesquisa assim... Na praia, fazendo observação de
cetáceos... Coisas com as quais eu nunca acabei trabalhando! Mas conforme eu ia fazia a faculdade, mais eu me apaixonava.
Legal,
Show. E você teve incentivo quanto a Ciência quando você estava na escola?
Muito
pouco. Era mais um exemplo de um professor ou até dentro das aulas de
laboratório que ficava aquela coisa mais interessante. Mas tirando isso, não.
O
que você achava que era um cientista quando você estava na escola? Você
consegue se lembrar?
Não.
[risadas].
[risadas]
Tudo bem, sem problema!
E
o que você imaginava que seria a vida de um cientista? No seu caso, era isso:
trabalhar na praia, observar cetáceos etc e tal ou você imaginava mais coisa?
Eu
sabia que existia toda uma pesquisa dentro de laboratório. Mas eu
não me via assim. Eu me imaginava fazendo algo mais dinâmico. Não digo nem na
praia, mas de repente, em um barco fazendo observação... Qualquer coisa assim.
Nunca me imaginei em um laboratório, principalmente mexendo com coisas como
ácidos e essas coisas assim. Eu sou terrível. Eu sou a pessoa mais desajeitada
do mundo. Até hoje eu não sou
muito uma pessoa de mexer nessas coisas [risadas]. Não me via dentro
de uma sala como hoje eu vivo.
Por
que Biologia Marinha?
Não
sei explicar. [risos]. Foi amor a primeira vista! Eu já gostava de biologia,
comecei a gostar no Ensino Médio. Sabe aquela [pessoa] que sempre sentava para
estudar biologia?
Sim.
Era
eu. Eu adorava. Só que até então eu gostava de todas as partes. A única parte
que eu não gostava muito, era de planta. Era a parte que eu ...
Eu
também. Nunca curti botânica.
Eu
acho que ninguém [risos].
Só
os botânicos!
Mas
assim, eu sempre gostei de todas as partes. E aí quando eu comecei a verificar
o que eu poderia fazer, eu pensei em Oceanografia...
Na Biologia eu comecei a
ver quais eram as especialidades em cada uma das universidades e foi quando eu
encontrei Biologia Marinha. Eu comecei a ler sobre e foi quando eu comecei a me
interessar. Só que mesmo assim eu entrei na faculdade achando que de repente eu
não iria gostar. E não foi isso que aconteceu. Pelo contrário!
O
que você pretendia estudar na Biologia Marinha quando começou a graduação?
Cetáceos.
[risos]. Mas acabou que eu [risos]
nem nunca fiz estágio nisso porque eu acabei entrando com estágio de bentos e
aí comecei a adorar.
A minha orientadora na época, Cristiane Fiori, começou
a me incentivar a que eu fizesse a monografia da minha graduação com taxonomia
de gastrópodes porque ela achava que eu podia seguir assim.
Eu adorei,
fiquei apaixonada pelas conchas e aí mais pra frente, quando depois eu terminei a
faculdade, uma amiga minha falou sobre os foraminíferos e tal e perguntou se eu
não queria dar uma olhadinha.
Foi quando eu fui trabalhar com o Prof. Lázaro
Laut que atualmente é professor do Labmircro da Unirio. E aí eu entrei para os foraminíferos, coisa que
não tinha nada haver e era algo que eu nunca tinha imaginado na faculdade.
O
que você esperava da vida acadêmica? Ou nem sabia que ela existia?
Eu
esperava assim: Eu sempre achei que a gente trabalhava bastante, mas eu
também sempre achei que você iria receber por isso. Eu sempre achei que era
compatível e no meio da faculdade você vai vendo que não é bem isso.
E na
realidade a academia, digo assim, a universidade não foi uma escolha minha. Eu
não saí da faculdade achando que eu iria fazer mestrado e doutorado. Doutorado,
nunca.
Eu achei o seguinte: Eu podia até tentar o mestrado, mas tudo bem se não
acontecesse. Porque foi quando eu comecei a dar aula e aí eu me encantei por
lecionar que também foi uma coisa que eu nunca quis.
O meu curso era de
bacharelado, eu nunca quis fazer isso e aí acabei fazendo. Primeiro dei algumas
aulas, gostei. Comecei a fazer a licenciatura e aí comecei a trabalhar como
professora depois da licenciatura concluída. E me encantei. E fiquei anos e
anos dentro da licenciatura.
Então só muito tempo depois é que essa amiga minha
falou sobre os foraminíferos, que tava sendo montado um grupo na UERJ de
micropaleontologia e se eu não queria ao menos conhecer a área.
E eu vim, fui
conhecer o prof. Lázaro Laut. Falaram: “Faz a prova”. Fiz a prova achando que
não ia passar. Porque era Geologia Geral. Nunca tive isso na faculdade.
Te
entendo ... [risos].
Minha
Geologia na faculdade era muito básica. Vou dizer que quase não existia. Mas eu
sentei para estudar. Fui estudando e estudando e acabei passando. E aí, dali em
diante a vida acadêmica surgiu para mim.
Para fazer doutorado, eu não tive
muita escolha, meio que falaram “Tenta! Se conseguir, ótimo”. Passei, fiz o
doutorado.
Quando eu terminei o doutorado eu falei “Ops... E agora?”. E foi
quando surgiu a oportunidade do Pós-doc.
Então a vida acadêmica foi surgindo
para mim. Eu não tive um perfil pré-determinado. Eu sempre imaginei que
assim, você ganhava bem para fazer a pesquisa e tal ... E eu vejo que não é
isso. Na faculdade eu já tinha descoberto isso e por isso que eu acho que eu
também não tinha tanto interesse. Eu caí no mercado de trabalho logo porque era o
que realmente podia me suprir na hora e depois que eu fui vendo que você
consegue viver, mas que você nunca vai ser milionário.
Verdade,
infelizmente.
O
que você achou da experiência de ser professora nas escolas?
MARAVILHOSA.
Que
lindo!
Eu
acho que é a base. As vezes na academia a gente tem esse problema. As pessoas
que fazem mestrado e doutorado acham que não tem de dar aula em colégio. Eu
acho que isso não existe, pelo contrário.
Quanto mais profissional
especializado você tem, principalmente dentro dos colégios, aí sim que você tem
um aumento da qualidade. Eu acho que você vai estar formando melhores alunos.
Claro que os que já estão, são excelentes professores, mas eu estou falando que
a gente começa a trazer realmente a Ciência para dentro da sala de aula. E
[estaremos] mostrando para eles que o mundo é muito maior do que o que eles
imaginam. Então, assim, eu acho o máximo. Eu acho que todo colégio deveria ter
doutorandos e pós-docs dentro dos colégios.
Em
quais áreas você estagiou na faculdade?
O primeiro estágio mesmo que eu fiz na vida, foi
com ranário. Eu acho que eu fiquei uns dois meses. Nem era um ranário
propriamente dito. Era Laboratório de Ranicultura.
Caramba!
Que legal! Aí depois você foi para os bentos...
Aí
eu fui para os peixes, no projeto Lagoa Viva. Eu achava o máximo ir para lá
para coletar. Mas eu vi que os peixes não eram a minha área. E foi quando eu
caí no laboratório de bentos.
Hoje
você trabalha em uma área interdisciplinar que envolve o meio ambiente e as
geociências. Como você chegou nessa área do conhecimento? Foi somente na
pós-graduação?
Na
pós-graduação por indicação. Mas o interesse não foi na pós. O interesse
foi quando eu estava fazendo a monografia. O que aconteceu: Eu fiz a identificação
de gastrópodas e algumas espécies que apareceram me deixaram confusa porque não
eram normais de estar ali. Era normal, mas na minha cabeça inicial não seria
normal aquelas espécies estarem ali. Foi quando eu comecei a procurar o que poderia estar acontecendo.
Foi quando eu comecei a me aprofundar com correntes [marinhas], comecei a
verificar a topografia, vi a formação de feixes de areia. Coisas que eu não
tinha visto na graduação propriamente dita.
Então, a monografia me abriu a
cabeça. Ela não me deixou só dentro de uma sistemática. Como ela foi em padrões
biogeográficos, ela me jogou literalmente no mundo das geociências. E aí quando
houve o convite, foi quando eu entrei na Geologia que eu achei que eu nunca
entraria.
Você
teve muita dificuldade de se adaptar a essa nova abordagem científica das
Geociências?
Não.
Eu tive dificuldade com as disciplinas. Porque era um mundo novo chegando. Mas
com o trabalho que eu desenvolvia, não, porque eu já tinha feito mais ou menos
isso antes. Só não tão profundamente.
Qual
a maior dificuldade de se realizar reconstruções paleoambientais?
Eu
acho que é a infraestrutura para você poder fazer todo o trabalho que você
quer. Ter dinheiro para fazer todas as análises, coleta ...
Porque
são trabalhos muito complexos ...
E
é um trabalho que demora muito tempo. No caso de foraminíferos,
micropaleontologia, é uma coisa que demora um pouco mais e aí não ter
infraestrutura para isso... Se tivesse, de repente, mais dinheiro para
mais análises, mais coletas, mais tudo ... imagina!
Aí,
seria o sonho!
Qual
é normalmente a sua rotina como cientista? O que um cientista faz?
Geralmente
eu trabalho triando organismos. Hoje em dia eu faço mais análises junto à
testa. Mas eu faço todo o processo de triagem, identificação, além de processos
de orientação. Então, minha rotina seria, chegar na sala, verificar se tem
processo de escrita de artigo, leitura de artigos novos, execução... tudo isso.
Bastante
coisa!
Então
é uma rotina do processo de triagem além de tentativas de acerto e erro de
metodologia.
Quando
você entrou na vida acadêmica, o que você achou? Ela correspondeu as suas
expectativas?
Mais
ou menos. Ela me realizou, porém, contudo, entretanto, todavia ... [risos] ...
ela simplesmente não era tão recompensadora em termos materiais.
[risos]
... É verdade ...
Mas,
profissionalmente, ela me completou. Hoje não consigo me imaginar sem ser
professora e sem ser pesquisadora. Eu sei que existem somente pesquisadores e
somente professores, mas eu gosto de tudo um pouquinho.
Em
quais lugares a Ciência já te levou (países, estados ...)?
Fora
do Brasil, eu já fui para o Uruguai, Portugal e Espanha! Para dentro do Brasil
eu já fui para o Rio Grande do Sul, foi o primeiro lugar quando eu estava no
mestrado. Há pouco tempo estive em Santa Catarina. Já fui para a Bahia, Manaus
e Natal.
Ciência
é lugar de mulher?
Claro!
Você
acha que as mulheres ainda têm muito a batalhar para conquistar o seu lugar na
ciência?
Com
certeza!
Você
sofreu algum preconceito por ser mulher dentro da academia?
[Risos]
... O tempo inteiro a gente acaba sofrendo um preconceito que é imperceptível.
Como assim?
Às vezes é um jeito de falar que com um homem é de uma maneira e de
repente com uma mulher é um pouco mais exaltado. Achar que muitas das vezes
trabalho de campo, que é trabalho pesado na minha área, porque não é um
trabalho fácil, tem de jogar draga e tudo ... não é um lugar para mulher.
É
óbvio, é claro que eu tenho total certeza de que fisicamente eu não tenho a
mesma força que um homem, mas dentro de um barco você não precisa fazer esse
tipo de serviço só.
Existem muitas outras coisas que podem ser feitas. Você não
precisa só jogar a draga para poder estar ali. Isso não define todo o seu
trabalho. E até eu conseguir chegar a esse espaço eu tive de provar que eu era
capaz de estar ali trabalhando com os meninos. Mas isso, de uma certa maneira,
é um preconceito.
Você
foi mãe jovem enquanto ainda realizava a sua formação acadêmica. Como foi
conciliar a vida de cientista com a maternidade?
Difícil.
Muito difícil. Porque quando as pessoas veem o resultado pronto, acham que tudo
foi fácil, mas na realidade para eu estudar para o mestrado, eu tinha de
acordar todos os dias as 4 horas da manhã para poder estudar. Era sair cedo de
casa, deixa-las no colégio e trabalhar e voltar. É uma rotina que todo mundo
faz, mas como a pesquisa te exige um pouco mais, eram finais de semana em que
eu tinha de trabalhar.
E nesse período, eu sempre coloquei as minhas filhas em
primeiro lugar, mas ao mesmo tempo em que eu a colocava em primeiro lugar, eu
precisava trabalhar.
Então, eu sempre tive de encaixá-las em tudo. Se eu
precisava ir em algum lugar e elas não estavam tão bem para ir para o colégio,
ou eu tinha de contar com o apoio da minha mãe ou da minha sogra, ou então eu
carregava elas.
E elas [filhas] tem essa vivência de poder ir para os lugares e
se comportarem, porque elas já sabem que aquilo é uma rotina de trabalho.
Então, quando eu estava trancada dentro de um quarto e falava “Eu preciso
estudar agora”, elas compreendiam que eu precisava daquele momento. Elas
[filhas] foram educadas a saber que existia horário para tudo e que eu
precisava me dedicar, mas que elas nunca estavam em segundo plano. Muito pelo
contrário.
Você
acha que isso se tornou um exemplo para elas? Que elas podem correr atrás dos
sonhos, ter uma família e que uma coisa não impede a outra.
Eu
espero. Sabe porquê? O que a gente vê hoje no mundo da ciência são as mulheres
tentando se reafirmar e deixando a maternidade para
trás. Quando elas chegam a um ponto de que “agora eu quero ter filhos”, as
vezes elas estão já com uma idade um pouco mais avançada e algumas não
conseguem mais ter porque o tempo passou.
Para algumas mulheres isso nem faz a
diferença porque a maternidade não é para todas. Mas para outras, aquilo vira
uma ferida. São pessoas que não conseguem se realizar. Só que existe uma união.
Para você estar bem no trabalho, você tem de ter uma vida pessoal boa.
Por mais
que você ache que você é um excelente pesquisador, se você não tem uma vida
pessoal legal, uma hora aquela conta é cobrada. Então é um equilíbrio. Eu
espero sim que elas [filhas] tenham aprendido que elas conseguem dividir isso,
dando importância à família, mas não abrindo mão de trabalhar, estudar. E não
se dedicar só ao trabalho.
O
que você acha de ser cientista no Brasil? Vale a pena?
[Gargalhada]...
Sempre vale. Se a gente for pensar que não vale, para que que a gente está aqui
então? Eu acho que cada um tem de fazer o que gosta de fazer.
Se eu gosto de
fazer ciência, é o que eu vou fazer. Porém, contudo, entretanto, todavia...
[risos]... Tem de saber o seguinte: Você quer fazer, faz, mas que vai ser
difícil. A partir do momento em que a gente não tem investimento financeiro e
outros tipos de investimento... Você às vezes não tem ninguém te incentivando a
buscar alternativas. E para você fazer pesquisa é complicado.
O
que você acha das produções científicas no Brasil? Acha que há um novo perfil
de se fazer ciência?
Eu
acho que são de qualidade. Mas eu tenho um medo. O meu medo é que para que haja
uma quantidade de publicação e para que o currículo ganhe peso, as pessoas
parem de fazer trabalhos de qualidade para poder fazer a multiplicação dos pães
com os artigos. E isso é uma coisa que me preocupa porque eu não sei até onde a
gente vai chegar assim. Eu acho que às vezes os trabalhos poderiam ser muito
melhores se não fossem tão fatiados.
Você
acha que na universidade, contando também na graduação, você aprende a ser
ético?
Eu
acho que você aprende a ser ético com a atitude de alguns profissionais. A
exemplo do que é feito com criança. Geralmente a criança escuta muita coisa,
mas ela se espelha em um exemplo.
Eu acho que você aprende a ser ético quando
você observa alguns profissionais na área. Mas você vê muita coisa errada
também acontecendo e aí eu acho que depende também do caráter da pessoa. Não só
o que ela hipoteticamente está aprendendo, mas também a base que ela tem.
O
próximo assunto é algo que eu sempre pergunto nas minhas conversas e
entrevistas com os meus outros amigos e colegas cientistas. É algo que algo que
a gente tem de discutir no nosso país e no mundo também. Mas acho que no nosso
país isso ainda é muito jogado de lado, muito mais do que nas outras nações.
Hoje
começa a ser discutida a questão da saúde mental no meio acadêmico, mas o
assunto ainda é visto como um tabu ou algo sem significância. Qual sua
opinião sobre o assunto?
Eu
acho que tem de ser olhado com muito carinho porque a maioria das pessoas
acredita que, na realidade, isso é frescura. Algumas pessoas acham que sendo grosseiras, humilhando e expondo as outras, elas estão "fazendo o bem" para aquela
pessoa. Mas na realidade, elas não está fazendo isso. Elas estão destruindo com
a autoestima dos outros. Claro que existem pessoas que vão pegar aquilo ali e vão tentar
mostrar que elas são melhores. É óbvio que existem seres humanos assim. Mas
existem seres humanos também que vão absorver aquilo como um fracasso. Aí você
está perdendo qualidade porque você poderia ter excelentes profissionais e você
acaba destruindo eles...
As vezes essas agressões são tão fortes e tão absurdas
que até pessoas que são equilibradas, acabam perdendo a estabilidade emocional.
O assédio moral é muito sério. Muito sério. As pessoas acham que o
assédio moral consiste em coisas muito graves, mas não é só isso. É o dia a dia
dentro do laboratório. É quando você humilha a pessoa do lado sem você sequer
perceber. É quando você impõe as suas crenças e você não escuta o outro.
Então
você acha que falta humanidade dentro da Ciência?
Com
certeza. O mal do mundo é o ser humano. Para tudo. Eu acho que o certo seria
chegar um meteoro, acabar com o planeta, acabou e começa uma nova espécie para
a gente tentar ver no que dá ...
Dar
um boot no sistema?
Isso!
Porque a gente não tem como reiniciar tudo. Mas enquanto o mundo só achar que é
só produção, produção e produção... a gente vai ter um problema porque tem um
ser humano ali. E aí você perde qualidade, se você perde qualidade, você perde
tudo.
Você
teria algo a dizer para as pessoas que enfrentam dificuldades pessoais e
profissionais que estão pensando em desistir da vida acadêmica?
Todo
mundo passa por altos e baixos. Ao mesmo tempo em que você é elogiado, você é
meio que humilhado. Então assim, não é uma pessoa que grita com você, não é uma
pessoa que desfaz do seu trabalho, que na realidade tem a competência para
determinar se você é bom ou não naquilo. Só quem tem competência para dizer se
você é bom ou não naquilo, é você mesmo.
Então assim ... Desistir? Isso não é
uma possibilidade. Eu acho que a pessoa tem de parar, sacudir, ver o que está
dando errado. A maioria das vezes a gente acha que nós somos os errados. Mas o
que eu canso de ouvir e que eu estou levando para a minha vida, é que na
realidade, não somos nós os errados e sim aquela pessoa que está fazendo aquilo
tudo é que tem problemas. Ela sim que precisa de ajuda.
A gente tem de ter
saúde mental para determinar quem realmente precisa de ajuda. Porque aqueles que
não aparentam nada, são aqueles que de repente precisam mais ajuda do que
aqueles que demonstram. Eu acho que é isso que faz a diferença.
E outra coisa:
Eu acho que a gente tem de deixar esse padrão. Às vezes a pessoa entra no mundo
científico e acha que fez mestrado, fez doutorado e aí você de repente não se
sente feliz com tudo aquilo que você fez. Aí você começa a se perguntar se tudo
aquilo que você fez, valeu a pena ou não.
Então a pessoa chegou em um nível que
ela acha que ela não pode largar tudo e começar tudo de novo. Só que cada um
tem de procurar aquilo que o faz feliz. Se na realidade não é dentro do mundo
científico, isso não te faz melhor ou pior. Isso não é uma vergonha, você ter
um título ou não. Na realidade, o que te faz feliz, tem de ser você mesmo.
Então se quiser largar e quiser procurar uma outra coisa ...
A pessoa tem de
tentar se conhecer e identificar o problema. Se ela está sofrendo aquilo tudo
porque na realidade ela mesma não se aceita... Porque as vezes você se impõe.
Impõe que você tem de fazer o mestrado, tem de fazer o doutorado para ser um
bom cientista. Quem disse isso?
Eu conheço profissionais maravilhosos que estão
na educação, que não fizeram mestrado e que, para mim, são mestres! Então eu
acho que não é bem assim. Você tem de procurar o que te faz feliz. O que te faz
se sentir bem. Se sentir realizado.
O
que você diria para os jovens que estão pensando em entrar na Ciência?
Sigam!
É uma excelente área! É um campo que precisa de muita gente. De muita gente
boa. A gente está precisando disso. De gente boa chegando, de gente do bem,
querendo fazer ciência, querendo mudar o que a gente tem de padrão hoje em dia.
Eu acho que a gente precisa dessa renovação.
E
tem algo a dizer para jovens mulheres que querem entrar na Ciência?
Por
favor, entrem! A ciência precisa dessa visão feminina. Desse olhar. E nós somos
muito competentes. O que a gente pede é igualdade de direitos e não
demonstração de quem é mais poderoso ou não. Eu acho que tem espaço para todo
mundo.
Que
lindo! É isso, Iara, muito obrigada! Valeu!
**Glossário e rápido tirador de dúvidas da
Thaís**
Bentos – Nome utilizado para identificar a
comunidade de organismos que vive no fundo (substrato) de ambientes aquáticos.
Boot – É um termo em inglês de tecnologia
que representa uma rotina automática de limpeza da memória do computador,
carregamento do sistema operacional e preparo do sistema para o uso normal.
Normalmente usamos o boot quando o computador trava, exemplo: “Vish!Travou! Dá
boot!”. Na gíria é usado com o sentido de “recomeçar do zero”/ “recomeçar”/
“começar de novo”, Exemplo: “Tá dando tudo errado na vida, só dando boot”.
Cetáceos – Grupo de mamíferos aquáticos a
exemplo das baleias e golfinhos. Amamos todos!
Estratigrafia – Parte da Geologia que estuda os
estratos (camadas, não confundir com extrato de tomate ou extrato bancário) de
rochas. O objetivo é identificar os processos e eventos que formaram cada
camada e contar a história paleoambiental do contexto em que ela foi formada.
Foraminíferos – São seres unicelulares protistas
com teca (nome chique para concha) que pode ser bem simples ou bem complexa com
várias ornamentações que podem ser utilizadas para classificar os foraminíferos
taxonomicamente. Estão presentes em todo o mundo e em todas as profundidades.
Podem ser atuais ou não e são muito utilizados na micropaleontologia.
Gastrópodes – Moluscos conhecidos como os
caracóis, lesmas etc.
Holoceno – Andar mais recente do
Quaternário, que é por sua vez, a parte mais recente da escalada de tempo
geológico. Tem aproximadamente 11,7 mil anos. O que de bom aconteceu nesse
tempo? O aparecimento do homem moderno. Reflitam se é algo bom ou não.
Microfósseis – Fósseis, só que microscópicos ou
de tamanhos muito, muito pequenos (Exemplo: Foraminíferos). São alvo de estudo
da Micropaleontologia. São muito estudados pela indústria do petróleo.
Micropaleontologia – Parte da Paleontologia que estuda
os microfósseis.
Monografia – Documento acadêmico sobre um
determinado tema normalmente produzido ao final dos cursos de graduação.
Normalmente é fruto de muito trabalho, descabelamento e estresse. Junto com a
sua apresentação oral e defesa, marca o final de um curso de graduação,
tecnólogo, especialização podendo ser obrigatória para a titulação.
Oceanografia – Ciência que estuda as
características, dinâmicas e interações (biológicas, físicas, químicas,
geológicas, climáticas etc) dos oceanos, mares, lagos, rios e zonas costeiras
(locais com água em geral).
Ranário – Local de criação de rãs.
Ranicultura – Atividade de criação de rãs.
Normalmente para alimentação humana. (eca).
Taxonomia – Parte da Biologia que faz a
descrição, identificação e classificação dos organismos. É utilizada para
descrever e classificar a diversidade dos seres vivos (e mortos uma vez que ela
também é usada na Paleontologia).
***
Espero
que vocês tenham gostado dessa novidade, galera!
Se
tiverem dúvidas, comentários e sugestões ... Escrevam na parte dos comentários
aqui em baixo!
Thaís
Parméra - Futura
Imperatriz de TODO Universo Conhecido